quarta-feira, 18 de maio de 2011



Era uma cidade pequena do interior, semelhante a tantas outras.
Sua única originalidade _ além da sua bela geografia montanhosa _ tinha sido um violento sismo que, no passado, tinha produzido considerável destruição e mortes.
O Terremoto não se repetira, mas os habitantes nunca mais foram os mesmos.
A tragédia os marcou de tal maneira que deixaram de confiar na solidez dos tetos e na estabilidade da terra em que pisaram.
Seus rostos sérios e atitudes reservadas são restos atuais do fatídico episódio.
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Yolanda passou por uma experiência semelhante. O abuso infantil foi um brutal terremoto que sacudiu seu passado e a atacou precocemente, desgarrando-a da infância de uma forma violenta e prematura.
Até hoje sente seus efeitos.
As terapias são uma das poucas ferramentas disponíveis para recuperar a confiança nas pessoas e na solidez do terreno.
Não há cura para os sismos. Na melhor das hipóteses, com o tempo, perdem sua força e são apagados da memória.
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O trauma infantil da Yolanda fez com que agora, adulta, não consiga acertar o passo da abordagem sexual masculina. Ela se precipita na hora de ir para a cama e se arrepende imediatamente depois, convencida de ter estragado definitivamente o encontro. Sua atitude não é racional, nem adequada, porém é compreensível, considerando os episódios infantis dos quas foi vítima, obrigada a um sexo alheio, sem consentimento, nem participação voluntária. Sua atitude atual é exatamente inversa: É ela que assume a iniciativa sexual sem dar tempo de ser conquistada pelo homem. Yolanda incorpora uma mulher "pseudo liberal", que precipita a sexualidade, e nessa pressa inverte sua atitude passiva do passado.
De alguma forma, "estupra-o", e assim evita ser ela a criança abusada.
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É assim que funciona o aparelho psíquico, como reação e defesa a um trauma: repete-o; porém, ao fazê-lo de forma invertida, corrige-o. Seu arrependimento e vergonha por sua precipitação se devem à sua avaliação consciente do seu comportamento como "viciada", "prostituta", e acredita que, por isso, será desvalorizada no mundo masculino. Sua consciência se engana quando acredita que sua pressa sexual é um erro irreparável. Pode não ser, vira irreparável quando ela fecha a porta à possibilidade de algum homem permanecer ao seu lado. Precipita-se em expulsá-lo, convencida do seu desprestígio.
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Na verdade, a Yolanda não deveria se precipitar, nem precisaria sistematicamente negar o sexo depois de ter aberto o caminho, porém, suas atitudes são o único modo que conhece de relatar sua história, e o faz de uma forma bizarra e de difícil compreensão. Melhor do que fazê-lo através de comportamentos que a comprometem seria contá-la com suas próprias palavras a uma terapeuta. Nem viciada em sexo, nem prostituta: a entrega sexual da Yolanda é precoce e imprudente por ela ter entrado precocemente na vida sexual. Precisa exumar seu passado e depois enterrá-lo, para não repeti-lo.
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Os habitantes da comarca conseguiram reconstruí-la, as casas novas foram se tornando mais sólidas e resistentes. Apesar da dor e do trauma, muitos se casaram e tiveram filhos, dos quais cuidaram primorosamente, para salvá-los de possíveis abusos e terremotos.

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