domingo, 15 de maio de 2011



Queria ser Girassol de pétalas sempre viradas ao Sol.
E o que faz o girassol a Noite? 
Se esconde? Aquiesce?
Mesmo a flor do Sol passa pelo negrume. 

Nas vicissitudes do amar queria ser somente beija flor:
leve, cor suspensa no ar, flor de asas. 

Mas quando vem o cinza, a intempérie do amor,
eu esqueço o beija-flor.
Como é frágil o coração.
Algumas palavras são suficientes para deixá-lo cabisbaixo, sem canto.
E porque a pessoa que te canta melodias 
logo te fere com palavras ásperas? 
E porque esse amor a dois oscila entre preto e branco? 
Eu adoraria escolher o branco. 

Só o branco. 

Ando em busca de um amor de mar turquesa, de águas macias. 
Aquele Amor de letra maiúscula
que transcende as mágoas, as sombras, a noite.

Num mundo de dia e noite como encontrar um Amor sem noite?


João revelou a ela que seu amor era como a flor gerbera.
Mas ela não deu atenção. Nem ternura.

As pétalas da gerbera foram caindo,
até que do amor-flor de João só sobrou o miolo.

Um amor despetalado.

Será que ela não sabe que dói em mim tanto o quanto dói nela?
E que há em mim sonhos repletos de pássaros, vôos e entrega?

João murchou...

E esperou o vento trazer novas sementes.


Sentia-se plena ali: os pés afundavam na areia, as ondas brincavam entre suas pernas, o sol acariciava o seu rosto e o vento (ah! o vento) ouvia seus lírios.

O verde esbranquiçado do mar a fazia lembrar de sonhos distantes, da essência azul que tanto buscava. Assombrava-se diante da beleza inefável que os olhos ouviam e se perguntava porque não podia perceber tal beleza por todos os segundos de seu respirar.

Perdia-se no mar, virava onda e redemoinho. A água amaciava as tristezas.

Queria fluir como o mar...


Gosto do seu abraço de Sol. Você derrete qualquer frio interno e transforma a minha neve em rio.

Gosto de estar entregue em seus braços, de me enroscar em você no meio da confusão de travesseiros, cobertas e brancos.

Acordar e dormir do seu lado faz de mim sorriso encantado, borboleta a sonhar no céu infinito.

E na nossa dança... como sou feliz na nossa dança: cheia de rodopios, passos repentinos e estrelas cadentes.

Relacionamento

O relacionamento íntimo com o outro me transforma. As feridas do outro esbarram nas minhas e trazem a tona minhas partes ocultas.

Algumas revelações não são nada agradáveis.

De onde vem essa dor?
Esse medo que achei que já havia ultrapassado?
E essa insegurança que invade tudo? 


O amor a dois me faz leve, tênue e sombria. No amor, um vai revelando e descobrindo a si-mesmo e ao outro.
Ou será que é apenas a si-mesmo?

O medo da entrega é latente, afinal não há controle.
Há só o viver, o experimentar-se através do outro.

Se o amor me faz renascer, eu mergulho sim em suas labaredas
e me faço pássaro da lua, mutável e repleto de fases.

Lua nova
Lua negra
Lua dócil
Lua sorriso
Lua plena.




Tem dias que dói. Dói o corpo, dói o peito.
E chove dentro.
Inunda tudo.
Nesse sobe e desce, nesse vai e vem,
ela busca um equilibrar mutante.
Tenta ser artista de circo e cai da corda bamba.

Quando menina ela queria ser bailarina,
sempre nas pontas dos pés,
de saia de tule rodada e sempre, sempre rosa.
Era seu mundo mágico.

A bailarina que ela é hoje quebra as pontas da sapatilha,
escorrega e muda de cor feito arco íris.

E ela - essa bailarina - dança e dança...
em busca de cura que a faça plena;
de luz incessante que a faça girar;
do verde-folha de dentro que acalma;

de um olhar que a decifre;
de um sorriso que a acolha;
de um encontro que nunca acabe.

De um eterno que dure.

O mar!

Quanta melancolia entreguei a essas areias
E quanto pranto secou esse mar.
Sou assim nessa praia:
criança de colo,
consolo nas tranças do vento
aconchego no Sol.

O Mar! Ah o Mar!
Me - nina com canção de ninar
O mar me dança.
Lamento, suplico,
Me escondo.
Me escuta!

Te ouço e te entrego
meus segredos
meu pesar

Guarda o meu silêncio.


Onda que vem... será que vai???

Sim, tenho medo. Medo de te mostrar a intensidade carmim de meus sentimentos. Sua voz é suspiro, arrepio na pele. Seu beijo me descompassa. Sei que gosta da fala clara e direta, mas sou assim: repleta de noite e mistérios.

Não vê que me afogo em seus olhos de mel? E me desmancho em seu toque? E que na nossa dança (você me enganou, seu dançarino!) me entrego tanto que me perco?

Sei que por vezes viro criança, insegura e boba.Tem noites que prendo as lágrimas e me finjo forte. E me faço rebelde para esconder a fragilidade e o despedaçar do peito.

E se você for onda que me envolve e logo se desfaz?

Onda, fica comigo, no vai e vem do nosso mar. Vamos nos transbordar de espuma e tons.

Derrama em mim a firmeza dos seus passos, a doçura dos seus gestos, o seu balançar.

Me inunda com a sua ginga, a sua arte e o seu Sentir.



Que eu possa ser Sorriso entre olhares cabisbaixos,
Canto de pássaro amarelo que alegra a manhã cinza,
Dança que diz: sim! Sente a vida dentro e fora,
As cores quentes e verdes da feira,
Mão que acaricia,
Palavra com sabor de jabuticaba.

No medo, na dor, na tristeza... na escuridão,
Que eu possa ser flores que aliviam a alma,
Nuvem que abraça o verso,
Brisa que levanta o ânimo e susurra: alegria!

Que eu possa ser amor de céu em pequenos gestos,
Risada presente que contagia,
Júbilo infinito que alumia.


O avesso...

Não e não! Ela não iria deixar de viver os seus sonhos para "se adequar" a sociedade. Preferia a autenticidade dos artistas, a originalidade das crianças e a fé dos santos mesmo quando a chamavam de louca.

Preferia andar pelas frestas e sombras buscando o avesso ao invés de seguir o "caminho comum" feito ovelha. Sabia que seria difícil para a família, pois seria vista como excêntrica. Mas não tinha jeito, nada dessas promessas do mundo externo a seduziam mais. Aprendera a viver no momento e por isso sentia-se fora do mundo.

Tinha encontrado o sorriso real (aquele que independe de circunstâncias externas) e por isso acolhia o tear da vida e cantarolava, espalhando sua fragância alegre independente do tempo, dos humores alheios e dos tons do dia.


Ela queria dizer-lhe da intensidade de seus sentimentos. Mas havia aprendido a conter as suas pulsões. Ensinaram-na, quando pequena, que sentir era arriscado. Pois bem! Tentava esconder-se de si mesma.

Uma noite, sentada ao seu lado ferveu por dentro - feito panela de pressão - e não podendo mais conter a ressaca, tascou-lhe um beijo perto dos lábios.

E enrubesceu.

Ele, surpreso, convidou-a para dançar.
Dançaram sem por quês, sem amanhãs.

Entregaram-se aos entrelaces das pernas, aos gestos suaves dos braços, aos movimentos redondos e firmes... e aos desejos contidos que se expressavam na dança.

Ele sentia o contato com o corpo dela e percebia a sua nuca nos segundos em que os cabelos esvoaçavam.

Ela sentia o seu cheiro, o seu rosto e não conseguia conter o tremor que lhe percorria o corpo.

Uma pausa na música a fez subir uma das pernas até os quadris dele e ele furtivamente beijou-a, sem dar espaço ao pensar.

Perderam-se na intensidade do momento.

E assim, sem pensar, deixaram-se levar pela música, pelo fluir da dança e pelo sentir que emanava feito arco-íris de mil pétalas.

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