quarta-feira, 18 de maio de 2011



Se tens um coração de ferro,
 
bom proveito.
 
O meu, fizeram-no de carne,
 
e sangra todo o dia. 

.
(José Saramago)



Ela andava sentindo os pés sem sapatos
Que a pudessem segurar no chão..
Até que mesmo sem querer
Uma amizade virou algo diferente
A forma que surgiu, parecia tão corriqueiro...
No entanto, a força que as uniu, era inexplicável
Então a pisada na água era sentida em duo
A ligação que passou a existir e a cola que não separa
Cola boa ? Funcional e intransponível..
Quando ela caminha ainda sozinha nos recantos da mente
Ou quando a dor a sufoca a ponto de esquecer que bate um coração
Ainda assim, a amizade se apresenta e não fica só..
Mesmo que o só pareça ficar necessário
Mas é a menina lá, e ela aqui..
Sintonia de uma mãe e uma filha
De irmãs... de jardins... To aqui..
Menina de olhos tristes, mas que aprendi a ler
Menina de entrelinhas, que aprendi a traduzir
Menina de pouco falar, que aprendi a me contar
Menina de viagens, que aprendi a fazer aterrisar..
Menina de eternidade, que aprendi a zelar..
Não desiste do que está escrito para ti..





Pra lá e pra cá..
Assim rolei nos lençóis azuis de lua..
Inquietante é o aroma que ainda sinto..
Inquietante são as lembranças que nem quero ter..
Inquietante é dizer não, quando o sim vem nos olhos..
Quando o sim vem no fechar dos mesmos olhos..
Transparente é o semblante de quem deseja,
como escapar do meu ?
Talvez persista por mais um tempo
mentindo pra mim mesma..
Talvez eu pague o preço de dizer adeus
ou de dizer vem logo..


Felicidade do que há de mais simples
Acessórios de lembranças
Adereços de brisa
Da marmelada ao pirulito
Da rede á vara de pesca
Do vestidinho de alça ao som da natureza
Assim na simplicidade apenas do ser
Encontra-se ao lado do outro...
Razões pra correr e se jogar ao chão
Com sorriso no rosto e olhos que não precisam abrir
O coração que se presenteia...
.
Acentos de bicicleta que falam e deduram
Lembranças em eternidades de sorrisos
O inverso de quem nos mostra a vida
A criança que nos é pedaço...


Que delícia é beijo roubado,
susto que surpreende,
carinho sem medidas de pudor...
Que delícia é ...
flores bem colhidas,
amores em miragens de rubor...


As palavras tão guardadas
Nestas cartas que me deste
De um passado que se foi
E ao tocar nas águas me recordo...
São relicários onde guardo num modo antigo
Teus sentimentos escritos
Quando a chama ainda acesa
Enaltecia nossos corações
Quando o fogo ora aceso
Contornava nossos horizontes com eternidade
As palavras que desfrutamos
Em olhares subliminares
Sim, recordo da sua letra,
Da forma que dava à elas;
Com traçados muito seus...
Particularidades
Da tua escrita e da tua caneta
Essas cartas bem guardadas dentro do peito
São um pouco da história que um dia vivemos..
O que se foi, e que sempre ficará,
Tem forma, tem selo, tem flores de saudades...



Cumplicidade...

Do Latim cumplice, unido, junto…
É uma sintonia, uma quimica entre as duas pessoas, são ações compartilhadas pelos dois que ficam só entre eles. Um apoio de um ao outro em todos os sentidos…


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

O cenário não é você
A árvore seca não é você
mera ilusão de sentimentos
O que apodrece é por fora
O que se deteriora é por fora
Por dentro sua essência é intacta
O cenário é sombrio
E por vezes quebra e cai pelo chão
Mas a cadeira é sua
A identidade personalizada
Sua digital e sua íris intransponíveis
Faz pensar a depressão que atinge
Mas não te paralize com o entorno
Você é torneada com outros valores...


Anjinho quer ser pirata
num barquinho inocente
Ele fumaça e vai seguindo
o curso das águas...
Anjinho chora diante do barquinho
birra, pirracinha, mal criação
Vai tentar atingir o cenário
Com suas armas infantis
Eu quero ! Quero ser pirata
Quero que o barquinho volte
Quero sair da ponte...!
Ta tão branquinho e bonito
Tinha que ter umas bandeiras
Umas cores bem imperativas
Um adesivo de Todinho talvez..
.
Anjinho sonhador
Ta mais pra Peter Pan
Seus sonhos de lutador
Nas aventuras imaginárias
Sonha ser Jack Sparrow
Ser criança é querer sempre
Seja o impossível ou não
As dimensões não são percebidas
A imaginação é seu poder maior
É sua fuga, é seu porto seguro.


Detonaram com o baú
As folhas de papel manteiga voaram como asas
As fotos tomaram vidas e andaram
As cartas recebidas foram endereçadas ao espaço
E os escombros do entorno se transladou com o caus
Voaram as informações secretas
Os eixos do interior
Virou livro aberto depois de tanto tempo sendo baú
Tornou-se em arquivos
E agora não sabe sua real existência
Pro ar...As escritas que viraram vidas
E obstinadas tomaram conta de si.
Folhas de papel malcriadas
com seus poderosos livre-arbítrios
que lhes eram negados
Interior emudecido dentro de uma caixa de emoções
Baú de Plumas e Concreto
São as letras ganhando voz
Falem baixo ! Não ganhem ousadia destemida
Ainda tem dona do que lhes compõem...
Voltem pra dentro da caixa imaculada !
Mesmo que o branco venha cinza
E que as leituras não sejam secretas
Voltem ! Já é hora de fechar as gavetas existenciais...


Sou sua música
Sua melodia...
A força que saem das tuas notas
Vem de nós..
O que dizer do som e das emoções
Vindas do piano do amor
São Testemunhas...
Notas Cúmplices
..


Um momento submersa
No entanto ainda respira..
Um momento imersa
No entanto sua alma mergulha..
Bolhas de oxigênio
Saem do pulmão que insiste..
Coração sedento de suspiros
Um pouco aqui...e nem tanto assim...
Um minuto de não existência..


Não existiria som se não
Houvesse o silêncio
Não haveria luz se não
Fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim
.
Cada voz que canta amor
Não diz
Tudo que quer dizer
Tudo que cala
Fala mais
Alto ao coração
Silenciosamente
Eu te falo com paixão
.
Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feito de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer
.
Zélia Duncan


O que é isto ???
O Trem está descontrolado
Os trilhos ficam tortos
Não ! Parece um lagarto andando em trilhos
Tortos..
Onde estou? Há um abismo por trás
Um grande homem com fumaça por todos os lados
Dá as ordens nesse lugar sombrio
Onde eu vim parar com essa alucinação ?
Viagem num trem fantasma
Ele anda por sobre patas
Meu reflexo está na parede, que incrível !
Sou criança ? Sim, pareço que fiquei
Mas tenho medo do que vejo
Minha sanidade onde foi ?
Ta no trem ? Manda parar !
Parece que vem em minha direção
Mas não é isso ! Estou no meio
O que faço ? Há saídas ?
Não as vejo, o que minha mente fez agora ?
Joguinho de humanos
Esquizo o quê ?
Não ! Isso é ser louco não é ?
Não ! De onde vem essa voz ?
Não tem ninguém aqui....Estranho...
Será que ta dentro da minha cabeça ?
Nossa, como eu pergunto, como to confusa...
Esquizo o quê ?
Fala alto ! Preciso sair desse lugar
O lagarto, ele quer me pegar, não ta vendo !
Freia ! é isso que ta falando ?
Freia ? !!!
...frenia ?
É ...frenia, que ta dizendo ?
Esquizo...frenia...Entendi...E não entendi nada...
Me tira de onde vim parar, é desconhecido pra mim
Tem pre-conceito ? Tem medo do desconhecido ?
Eu também...Ainda não entendi nada...
Eu to vendo ele ali, vc não está vendo não ?
Mas eu estou...Como posso ? Como...
Freia pra mim !!! Freia !!!


Um lugarzinho no nada e no tudo
Um lugar pra ouvir o silêncio apurado
Sentir as cores, as tonalidades
O isolar-se seguro e sadio
Faz parte e como faz bem...
Olhei essa imagem e me deu essa sensação...
.
Minha professora de pintura e desenho
Dizia que...
Ninguém teria como pintar as árvores
Se não pegássemos um bom tempo
Pra olhar com calma uma a uma
A admiração dos verdes,
A variedade dos verdes,
imperceptíveis quando temos pressa
Quando deslizamos o nosso tempo
e não enxergamos o entorno e as particularidades
.
O quanto tentar pegar somente uma foto,
não me leva á essência
Hoje tenho uma tela pra repintar...
Repintar ? Sim, elas são livres como a vida pra retoques
Ou se apaga tudo e faz um novo desenho
Ou se coloca no canto, deixa poeira chegar e a deixa sem utilidade
.
Peguei minhas tintas, tadinhas, estavam tão largadinhas
O óleo de linhaça, pincéis e a tal tela que vou apagar
Não era boa, pra poder apagar assim sem pena ?
Não...Ela nunca me despertou emoção...
Só foi pintada, mas eu não estava nela
Preciso que ela ganhe vida,
E isso ás vezes leva tempo
Leva esboços ou leva um pincel apagando tudo...
Recomeçar de telas...
Que bom que a vida
Também nos dá essa possibilidade...


O maior dos frios...
O gélido toque do vento
Faz inverno nas curvas
Faz neve nas câmaras secretas
Tão imenso é...que queima...
Não cicatriza...Deixa intacta
A dor...O vazio petrifica
O maior dos frios...
A pior da nudez
Impiedosas lâminas
do gelo da alma...


Quero que me toques como nunca
Não ! Que me respire e inspire
Quero ser seu pulmão em pele
Quero o toque nos olhos
.
Com a pena da saudade
Quero ser seu caderno
Ser o desenho dos teus anseios
Reanimaste minha fome e sede de nós
Estava adormecida ...
.
Como a brisa que arrepia...quero reencontrar
Nossa química...Nossa cumplicidade
Quero eternizar, mesmo sabendo que em nós ...
A cada virada de esquina, há um fim..
Mas a cada reencontro há um recomeço..


Como é sombrio o seu mundo
Andam em conjunto
Mas é um andar solitário
Só seguem ventos
Desejo vampiro o deles
Sugam seu sangue e misturam no pó
Esquentam a colher da prisão
Injetam a amargura da morte
Como é sombrio o seu mundo
Corrompem as pessoas
com a compra de seus prazeres vazios
Vendedores de cápsulas
de suicídios camuflados
Zombadores da vida
Capitalizam as grades de tantos...
Camuflam a juventude em viagens
Deslizam gerações com veias obstruídas
Entopem a sociedade com véu de pó
Vidas que vieram do pó e pra ele retornam
Branco, amarronzado, acinzentado
Cores de cemitério com corações que ainda batem..
Nem sentem, só bate..puff..puff..


Tocou a maçã e adormeceu na sua vontade
O gosto ficou nos lábios ainda vermelhos
Seu gosto não chegou ao palato
Não era pra ela, estava em terras estrangeiras
Adormeceu um sono encantado
Sua alma viajou além corpo e ganhou sonhos reais
Eram visões em forma de subconscientes ativos
Tocou a maçã ainda de olhos abertos
Olhou de cima, e viu seu corpo estendido
Não era pálida a sua imagem, era viva de cores
Sobreveio á ela, o conhecimento que não havia morrido
Mas se contemplou em um silêncio absurdo
Agora entende os motivos porque não veio a apreciar
Aquilo que depois de tocado, é sempre tocado...
E nem sempre se tem como voltar atrás...
.


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